"Como podemos nos entender (...), se nas palavras que digo coloco o sentido e o valor das coisas como se encontram dentro de mim; enquanto quem as escuta inevitavelmente as assume com o sentido e o valor que têm para si, do mundo que tem dentro de si?." (Pirandello).


sábado, 29 de maio de 2010

O risco psicossocial que as empresas deveriam assumir

Retirado do site da Revista Proteção
Data: 11/01/2010 / Fonte: Blog Radar Econômico de Sílvio Crespo (Estado de SP)

De acordo com uma notícia publicada no jornal francês Le Echos, em outubro do ano passado, um funcionário de uma loja do Carrefour de Lyon cometeu suicídio.

A reportagem citada por Crespo, diz ainda que desde o segundo semestre do ano passado representantes dos empregados não participam de reuniões do comitê de segurança do trabalho, como forma de pressionar a direção da empresa a divulgar dados sobre suicídios de funcionários.

A rede criou, então, um comitê de prevenção a esse tipo de problema e prometeu iniciar nesse início deste ano um estudo em quatro supermercados do grupo na França, abrangendo cerca de 1,6 mil funcionários. O objetivo, diz o jornalista, é criar uma "metodologia de diagnóstico e de prevenção a riscos psicossociais" dentro da companhia.

A "epidemia" atinge também a France Telecom

Mas ao que parece os casos de suicídio no ambiente de trabalho, não são um problema particular da rede Carrrefour. Em setembro do ano passado o jornal inglês The Independent chamou a atenção para outro suicídio de um empregado envolvido com problemas no trabalho. Em outubro outro jornal inglês, o The Guardian também levantou questões sobre o que estaria levando os trabalhadores franceses a se suicidarem em função das pressões corporativas.

A vítima, descrita pelos jornais ingleses, era um executivo da empresa France Telecom, que opera internacionalmente com a marca Orange. Com esse episódio subia para 24 o número de empregados da empresa de telecomunicação francesa em apenas 1 ano e meio. De acordo com os jornais, o suicídio dentro de empresas - relacionado com estresse no trabalho e outros tipos de pressão e violência psicológica -não é incomum e vem aumentando no mundo todo, mas no caso da França a repercurssão dos casos levou a um questionamento da sociedade.

Os perfis dos empregados envolvidos com essas mortes trágicas também traz um panorama do problema enfrentado: trabalhadores tidos como equilibrados, entre os 40 e 50 anos e que ameaçados de perderem o emprego.

Empresa em crise, funcionários em crise

A France Telecom viu o cenário de telefonia fixa mudar radicalmente nos últimos anos após o triunfo dos celulares e da internet. Com a crise, a empresa - uma estatal privatizada - deveria enxugar seu quadro de funcionários. Esses porém tinham automomia nos cargos graças aos acordos anteriores à privatização.

A estratégia da empresa foi então adotar táticas de bullying para forçá-los a deixar seus empregos. Entre essas táticas - além da pressão excessiva e imposição de turnos exaustivos - estava transferir gerentes para cargos do call-center da empresa, um cargo abaixo da hierarquia inicial desses funcionários e suscetível a um nível de estresse intenso para quem não é treinado adequadamente para esse tipo de rotina.

A onda de suicídios na France Telecom foi chamado pela mídia local de "epidemia" e mesmo minimizado pela empresa que justificou os diversos episódios como uma "questão de contágio", ou seja, a notícia de um suicídio levou a outros potenciais suicidas a decidirem pelo mesmo ato também.

No Brasil, apesar do cenário completamente diferente da França, não há quaisquer números relativos à vitimização de funcionários pelos empregadores, e menos ainda cruzamento de dados entre estresse causado pelo trabalho e a manifestação de transtornos mentais (inclusive aqueles que possam levar ao pensamentos suicidas, como a depressão).

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