"Como podemos nos entender (...), se nas palavras que digo coloco o sentido e o valor das coisas como se encontram dentro de mim; enquanto quem as escuta inevitavelmente as assume com o sentido e o valor que têm para si, do mundo que tem dentro de si?." (Pirandello).


Sugestão de Livros

"Página em construção"... Segue um aperitivo para degustação. 

Abusado – O Dono do Morro Dona Marta. Caco Barcellos. "Os tiroteios faziam chover até em dia de sol forte na Santa Marta. Os 'chuveirinhos', alegria das crianças, eram provocados pelos projéteis de vários calibres que sempre rompiam as tubulações de água potável devido a uma rara característica da velha rede de distribuição, criada nos tempos dos mutirões de Dom Hélder Câmara. A rede era de autoria dos pais e avós dos jovens da terceira geração de traficantes. Mas também era considerada patrimônio dos criminosos de várias especialidades, herdeiros da bandidagem dos anos 60. Contam na favela que assaltantes, ladrões e desocupados trabalharam duro, como nunca haviam visto, nos mutirões que criaram o sistema pioneiro (...). A manutenção também sempre foi tarefa dos próprios moradores, exceto nos dias de 'chuveirinho', quando eram os atiradores que providenciavam o conserto das goteiras provocadas pelos tiroteios. Devido à freqüência das guerras, a recuperação dos canos virou atividade remunerada, incorporada às despesas corriqueiras da boca. Para o menino Pardal, o serviço de reparo da canalização representou o caminho de entrada para o tráfico." 


Admirável Mundo Novo. Aldous Huxley. "Os livros e o barulho intenso, as flores e os choques elétricos - na mente infantil essas parelhas já estavam ligadas de forma comprometedora; e, ao cabo de duzentas repetições da mesma lição, ou de outra parecida, estariam casadas indissoluvelmente. O que o homem uniu, a natureza é incapaz de separar!
- Elas crescerão com o que os psicólogos chamavam de um ódio "instintivo" aos livros e às flores. Reflexos inalteravelmente condicionados. Ficarão protegidas contra os livros e a botânica por toda a vida...
...Um dos estudantes levantou a mão. Embora compreendesse perfeitamente que não se podia permitir que pessoas de casta inferior desperdiçassem o tempo da Comunidade com livros e que havia sempre o perigo de lerem coisas que provocassem o descondicionamento de algum de seus reflexos... enfim, ele não conseguia entender o referente às flores. Porque se dar ao trabalho de tornar psicologicamente impossível aos Deltas o amor às flores?
Pacientemente, o D.I.C. explicou. Se se procedia de modo que as crianças se pusessem a berrar diante de uma rosa, era por considerações de alta política econômica. Não havia muito tempo (mais ou menos um século) tinham se condicionado os Gamas, os Deltas e até mesmo os Ípsilons a amar as flores - as flores em particular e a natureza selvagem em geral. O fim visado era despertar neles o desejo de irem ao campo sempre que fosse oportuno, obrigando-os assim a utilizar os meios de transporte.
- E eles não utilizavam os meios de transporte? - perguntou o estudante.
- Sim, e muito - respondeu o D.I.C. -, mas nada mais.
As flores do campo e as paisagens, advertiu, têm um grave problema: são gratuitas. O amor à natureza não estimula a atividade de nenhuma fábrica. Decidiu-se que era preciso aboli-lo, pelo menos nas classes baixas; abolir o amor à natureza, mas não a tendência a consumir transporte. Pois era essencial, evidentemente, que continuassem a ir ao campo, mesmo tendo-lhe horror." 



As Boas Mulheres da China. Xinran. "Não recebi nenhum elogio por salvar a menina, só críticas por ''deslocar soldados, causar agitação entre as pessoas'' e desperdiçar o tempo e o dinheiro da emissora. Fiquei abalada com essas queixas. Havia uma garota em perigo e, ainda assim, ir em socorro dela foi visto como ''exaurir as pessoas e drenar o Tesouro''. Quanto valia, exatamente, a vida de uma mulher na China?"


As Brumas de Avalon. Marion Zimmer Bradley. (Coleção com quatro livros: A Senhora da Magia, A Grande Rainha, O Gamo-Rei e O Prisioneiro da Árvore). "A verdade tem muitas faces e assemelha-se à velha estrada que conduz a Avalon: o lugar para onde o caminho nos levará depende da nossa própria vontade e de nossos pensamentos, e, talvez, no fim, chegaremos ou à sagrada ilha da eternidade, ou aos padres, com seus sinos, sua morte, seu Satã e Inferno e danação...Mas talvez eu seja injusta com eles. Até mesmo a Senhora do Lago, que odiava a batina do padre tanto quanto teria odiado a serpente venenosa, e com boas razões, censurou-me certa vez por falar mal do deus deles. “Todos os deuses são um deus”, disse ela, então como já dissera muitas vezes antes, e como eu repeti para as minhas noviças inúmeras vezes, e como toda sacerdotisa, depois de mim, há de dizer novamente, “e todas as deusas são uma deusa, e há apenas um iniciador. E cada homem a sua verdade, e Deus com ela”.


A Noite dos Tempos. René Barjavel. "Compreendi tudo. Olhando para teus lábios, notei que eles estremeceram de amor à passagem daquele nome. Então eu quis te separar dele o mais breve possível. Quis que soubesse, que ele estava acabado, que nada restava dele, nem mesmo um grão de poeira mil vezes levado pelos mares e pelos ventos, nada mais dele nem do teu passado. Nada de nada... que as tuas lembranças eram tiradas do vazio. Que atrás de ti havia apenas escuridão; que a luz, a esperança e a vida estavam no nosso presente, conosco. Destruí todo o teu passado de um só golpe. Eu te fiz mal. Mas tu, pronunciando aquele nome, tu fostes a primeira a destruir. Destruías o meu coração."


Capitães da Areia. Jorge Amado. "-- Que culpa eles têm? -- o padre se lembrava de João de Adão. -- Quem cuida deles? Quem os ensina? Quem os ajuda? Que carinho eles têm? -- estava exaltado e o Cônego se afastou mais dele, enquanto o fitava com os olhinhos duros. -- Roubam para comer porque todos estes ricos que têm para botar fora, para dar para as igrejas, não se lembram que existem crianças com fome... Que culpa..."


CV_PCC - A Irmandade do Crime. Carlos Amorim.


Fernão Capelo Gaivota. Richard Bach. "Não acredite no que os teus olhos te dizem, tudo o que eles mostram é limitação. Olhe com o entendimento, descubra o que já sabes, e verás como voar!".


Fronteiras do Universo. Phillip Pullman. (Coleção com três livros: A Bússula de Ouro, A Faca Sutil e A Luneta Âmbar)


Fugindo do Ninho: uma Aventura do Espírito. Richard Bach. "Esperamos todos esses anos para encontrar alguém que nos compreenda, pensei, alguém que nos aceite como somos, alguém com o poder mágico de fazer raios de sol brotar das pedras, que nos traga felicidade e não julgamentos, que enfrente nossos dragões à noite, que nos transforme naquilo que queremos ser. Só ontem descobri esse Alguém mágico, na face que vi refletida no espelho: somos nós e nossas máscaras caseiras. Todos esses anos, e afinal nos encontramos. Quem diria."


Ilusões: as Aventuras de um Messias Indeciso. Richard Bach. "A marca de sua ignorância é a profundidade da sua crença na injustiça e na tragédia. O que a lagarta chama de fim do mundo, o mestre chama de borboleta"


O Dia do Curinga. Jostein Gaarder. "- A paciência é uma maldição de família. Há sempre um curinga que não se deixa iludir. Quem quer entender o destino, tem que sobreviver a ele.....No caso do curinga é diferente, pois ele veio ao mundo com o defeito de ver coisas demais e de ver todas elas em profundidade!"


Olga. Fernando Morais. "Embora estivesse, como dissera o Barão de Itararé, ‘grávida a olho nu’, Olga teve que ser submetida a um exame ginecológico, feito pelo médico Orlando Carmo, indicado pela polícia, para comprovar formalmente seu estado. Mesmo não havendo dúvidas de que a Constituição lhe assegurava o direito de permanecer no país, estando para dar à luz o filho de um brasileiro, não faltaram juristas a teorizar sobre o acerto da decisão de Vargas e Filinto Muller de expulsá-la do Brasil. Quando alguém lembrava a garantia constitucional, a resposta era sempre a mesma: ’Bem, mas estamos sob estado de guerra, não é?'."


O Macaco e a Essência. Aldous Huxley. "Narrador. O amor elimina o medo, mas reciprocamente o medo elimina o amor. E não apenas o amor. O medo elimina a inteligência, elimina a bondade, elimina todo pensamento de beleza e verdade. Só persiste o desespero mudo ou forçadamente jovial de quem pressente a obscena presença no canto do quarto e sabe que a porta está trancada, que não há janelas. E então a coisa acomete. Ele sente uma mão na sua manga, respira um bafo fétido, quando o ajudante do carrasco se inclina quase amorosamente para ele (...). E o medo, meus bons amigos, o medo é a própria base e fundamento da vida moderna. Medo da tão apregoada tecnologia que, enquanto eleva o nosso padrão de vida, aumenta a probabilidade de nossa morte violenta. Medo da ciência que arrebata com uma das mãos ainda mais do que tão prodigamente distribui com a outra. Medo das instituições manifestamente fatais pelas quais, em nossa lealdade suicida, estamos prontos a matar ou morrer. Medo dos grandes homens que elevamos, por aclamação popular, a um poder que eles usam, inevitavelmente, para nos massacrar e escravizar. Medo da guerra que nós não queremos e todavia tudo fazemos para desencadear.lhos."


O Pequeno Príncipe. Antoine de Saint-Exupéry. "- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos" 

O Povo Brasileiro. Darcy Ribeiro. "Milhares de índios foram incorporados por essa via à sociedade colonial. Incorporados não para se integrarem nela na qualidade de membros, mas para serem desgastados até a morte, servindo como bestas de carga a quem deles se apropriava. Assim foi ao longo dos séculos, uma vez que cada frente de expansão que se abria sobre uma área nova, deparando lá com tribos arredias, fazia delas imediatamente um manancial de trabalhadores cativos e de mulheres capturadas para o trabalho agrícola, para a gestação de crianças e para o cativeiro doméstico. Custando uma quinta parte do preço de um negro importado, o índio cativo se converteu no escravo dos pobres, numa sociedade em que os europeus deixaram de fazer qualquer trabalho manual. Toda tarefa cansativa, fora do eito privilegiado da economia de exportação, que cabia aos negros, recaía sobre o índio".


Pedagogia do Oprimido. Paulo Freire. "... E haverá importância maior que conviver com os oprimidos, com os esfarrapados do mundo, com os "condenados da terra"?"


Poliana. Eleanor H. Porter "Muitas vezes me acontece de brincar o jogo do contente sem pensar, a gente fica tão acostumada que brinca sem saber. Em tudo há sempre alguma coisa capaz de deixar a gente alegre; a questão é descobri-la."


Quatro Gigantes da Alma. Mira Y Lopez, Emilio. "Efetivamente, se de algum modo se pode caracterizar o estado do Ser ciumento é definindo-o como uma perseverante e complexa frustração: sente amor e julga-se não correspondido (ou, o que é ainda pior, falsamente correspondido); sente raiva, mas compreende a ineficácia de demonstrá-la; sente temor e não pode fugir; sente, pois, intensamente, uma necessidade de ação, e, simultaneamente, percebe sua impotência, desde que a solução do caso não depende dele e sim dos outros ... e não consiste precisamente em “atos” mas em “sentimentos”... que não podem impor-se nem suprimir-se, que não obedecem a razões nem coações... Assim, o Ser que é devorado ou consumido pelos ciúmes vive em perpétua tensão, sem poder assumir uma atitude mental definitiva, bamboleando-se continuamente entre a fé e o desespero."

Rota 66 - A História da Polícia que Mata. Caco Barcellos. "Minha investigação mostra que os PMs são alunos que aprenderam o pior dos seus professores do passado. Além de terem copiado o método brutal da repressão – o fuzilamento -, ainda conseguem a proeza de desrespeitar a lei do direito à vida de forma mais insana.  (...) Os matadores da PM agem espontaneamente, sem nenhum critério prévio. Escolhem suas vítimas a partir de uma simples desconfiança. Consigo fazer essa afirmação com segurança depois de ter examinado exatamente 33 tiroteios ocorridos em 1975."  

Vidas Secas. Graciliano Ramos. “A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pêlo caíra em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida. (...) Então Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a espingarda de pederneira, lixou-a, limpou-a com o saca-trapo e fez tenção de carregá-la bem para a cachorra não sofrer muito. Sinhá Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se cansavam de repetir a mesma pergunta: – Vão bulir com a Baleia? (...) Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme.”

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