"Como podemos nos entender (...), se nas palavras que digo coloco o sentido e o valor das coisas como se encontram dentro de mim; enquanto quem as escuta inevitavelmente as assume com o sentido e o valor que têm para si, do mundo que tem dentro de si?." (Pirandello).


sexta-feira, 20 de julho de 2012

Relação de emprego e relação de poder.

É interessante observar a postura de alguns profissionais (gestores ou não) sobre determinadas questões na relação de emprego.

A jornada de trabalho máxima permitida pela legislação brasileira (CLT) é de 44 horas semanais e 8 horas diárias, das quais raros empregadores abrem mão. É possível encontrarmos contratos de trabalho de 40 horas semanais (o equivalente a não trabalhar no sábado), mas desconheço algum que reduza a jornada diária.

Não podemos confundir com o contrato de trabalho de alguns profissionais, tais como os bancários, que já possuem a jornada de trabalho diária diferenciada, no caso de 6 horas, com 30 horas semanais (conforme o art. 224, da CLT).

Também não é o caso do empregador que libera os trabalhadores mais cedo. Estamos tratando da redução da jornada estipulada contratualmente, ou seja, a previsão de uma jornada diária inferior as 8 horas máximas legais, em cláusula do contrato de trabalho e na carteira de trabalho. 

Tudo bem. Dentro da legalidade o empregador exigir as 8 hs diárias e as 44 hs semanais.

O que causa estranheza é a necessidade de alguns gestores, donos ou não do negócio, de controlar cada segundo em que o empregado está a sua disposição (dentro das 8 horas diárias). Não pode chegar 5 minutos atrasado. Não pode sair 5 minutos mais cedo. Nunca. E observem que a CLT não considera 5 min. atraso (parágrafo primeiro, do art. 58, da CLT). Não podem demorar no cafezinho. Não podem demorar no banheiro. Não podem fazer uso do telefone para assuntos pessoais. Não podem usar o e-mail da empresa para assuntos que não sejam de trabalho.

Tudo bem limitar e controlar o acesso dos empregados aos recursos da empresa. O e-mail é corporativo, não pode utilizar para fim pessoal. A conta de telefone é paga pelo empregador, nada mais justo que limite o uso aos seus interesses. Mas há atividades que não são de competência do empregador estipular o tempo a que o empregado se dedica. Quanto tempo levamos para escovar os dentes? E se eu uso aparelho ortodôntico posso demorar mais do que o meu colega de trabalho que usa dentadura?

Conheço uma vice-reitora de instituição de ensino superior privada que controla o tempo em que as auxiliares de secretaria utilizam o banheiro, quando ela considera demorado chama a empregada para conversar e questiona o motivo. Assédio moral? Bem, seria assunto para outra postagem.

Depois de alguns anos de trabalho, em diversas culturas organizacionais, concluí que para algumas pessoas é prazeroso controlar, mandar, impor, limitar, dominar etc não apenas as atividades de trabalho de outra pessoa, mas se possível seus sonhos, esperanças e seus pensamentos.

"Relações de poder não são fáceis."

Violência psicológica atinge jovens em ambiente profissional

Retirado da Revista Proteção, para acessar na origem clique aqui.

Data: 03/04/2012 / Fonte: Agência USP de Notícias 

São Paulo/SP- Em uma pesquisa realizada entre 2009 e 2010 na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, a psicóloga Samantha Lemos Turte avaliou experiências de assédio moral relatadas por adolescentes trabalhadores e concluiu que eles não só estão expostos a situações constrangedoras, como também não sabem lidar com elas. O estudo foi orientado pela professora Frida Marina Fischer, do Departamento de Saúde Ambiental da FSP.

O incentivo ao início da vida profissional já na adolescência é uma prática propagada, inclusive, com implementação de leis, como a Lei nº 10.097, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece, entre outras coisas, que empresas tenham em seu corpo de funcionários um mínimo de 5% de menores aprendizes. Para Samantha, o interesse em promover a saúde no trabalho é primordial, uma vez que neste local adultos e jovens dispensam considerável parte do seu dia. Diante disso, a pesquisadora levantou a necessidade de avaliar se trabalhadores jovens saberiam reconhecer violência psicológica no seu cotidiano corporativo.

Dentre 40 adolescentes entrevistados para a pesquisa, a maioria com idade inferior a 18 anos, foram reconhecidas situações que podem ser compreendidas como violência psicológica.

Ainda que alguns tivessem sido respeitados, outros reclamaram de humilhações e imposições sofridas. Entre alguns abusos detectados, estavam desde constrangimentos provocados por outros funcionários da empresa até a realização de funções para as quais não foram contratados.

Para Samantha, o mais preocupante é a banalização das condições ruins de trabalho às quais tanto adultos quanto crianças estão submetidos. É comum ouvir que trabalhar é ruim, as coisas não são fáceis, etc e, com isso, perde-se a noção de que a promoção da saúde mental deve ser estendida ao ambiente profissional. "Naturalizamos problemas do trabalho e irradiamos na nossa vida pessoal", diz a pesquisadora.

A pesquisadora também contou que os adolescentes não sabiam reconhecer, sem uma explicação prévia, se haviam sido vítimas de violência psicológica. Quando eram informados da definição do termo, faziam um paralelo desta com o bullying, prática de agressão comum entre crianças na idade escolar.

Segundo o estudo, os jovens que sabiam o que era assédio moral e o reconheciam, tinham mais segurança em defender-se da prática e reclamar por seus direitos. Para a psicóloga, discutir na escola questões relativas aos limites das relações interpessoais no trabalho, à saúde e às formas de violência evitaria que os jovens sofressem estes abusos, e lhes daria argumentos para se proteger. Com esses conceitos bem definidos, "nos tornaríamos protagonistas na promoção da saúde", diz Samantha.

Entrevistas 

Inicialmente, a psicóloga procurou uma Organização Não Governamental (ONG) especializada em preparar e encaminhar jovens residentes da Zona Sul de São Paulo entre 15 e 20 anos para o mercado, inclusive com promoção de cursos. Esses cursos abrangem conceitos técnicos de áreas administrativas, inglês, linguagem, matemática, informática e noções de direitos como cidadão e deveres com a sociedade.

Há três tipos de jovens vinculados à associação: aqueles que não estão no mercado de trabalho e, portanto, frequentam diariamente as aulas preparatórias; aqueles que trabalham como jovens aprendizes, possuem vínculo empregatício com a empresa correspondente, ou seja, têm carteira de trabalho assinada, e frequentam uma vez por semana as aulas da ONG; e aqueles que estão contratados como estagiários nas empresas, com contratos sem vínculo empregatício, e frequentam as aulas uma vez por mês.

Assim que participam das atividades reservadas ao primeiro grupo, os jovens são encaminhados para empresas parceiras da ONG, cadastradas para implementar essa mão de obra.

Os jovens selecionados para a pesquisa eram provenientes do segundo e terceiro grupo e que já estavam empregados no mínimo seis meses. Foram realizadas entrevistas, tanto individuais quanto em grupo, além de um questionário, para detectar se estes jovens sofriam assédio moral ou outro tipo de violência psicológica no trabalho, e, mais importante, se sabiam reconhecer tal ato.

A intenção era determinar se os jovens que frequentavam as aulas na ONG uma vez por semana saberiam reconhecer e lidar com assédio moral de forma mais efetiva do que os que frequentavam a ONG apenas uma vez por mês. Por haver menores de idade no grupo estudado, termos de consentimento foram assinados pelos pais dos participantes.